Oi, paizinho!
Hoje o senhor completaria 63 anos. Lembro do último dia que
comemoramos essa data juntos. Ainda tenho as fotos. Recebemos familiares e
amigos lá na nossa casa de Abadia de Goiás, cantamos suas músicas preferidas da
igreja e te entregamos flores, umas vermelhas que nasceram no quintal de casa.
Foi em 2000.
Também lembro do seu último aniversário, paizinho, 17 de
outubro de 2001. Não tínhamos tantos motivos para comemorar naquele dia. Fomos
ao hospital, onde o senhor estava internado há algumas semanas, diagnosticado
com câncer. O Dedé te presenteou com um relógio, que o senhor tentou colocar
mesmo com o pulso inchado e imobilizado pelo soro.
O senhor beijou minha testa, como sempre fazia para
demonstrar seu carinho comigo, e prometeu que voltaria logo para casa. Promessa
que eu alimentei a cada dia, a cada ida naquele hospital, a cada olhada para os
seus pertences lá em casa, em cada silêncio presenciado naquela casa que era
enorme sem o senhor lá, fazendo suas conservas, trocando a água do filtro, me
acordando cedo, me oferecendo jurubeba no jantar, lutando para manter a TV no
canal do jornal, lendo a bíblia todos os dias antes de dormir.
Tudo isso já fazia falta naqueles dias angustiantes que
passamos, até chegar um dos piores dias das nossas vidas. Dia 3 de dezembro de
2001, às 16 horas, meu telefone tocou, era minha irmã:
– Meu pai faleceu!
Entrei em pânico, não sabia o que fazer. Abracei minha
gerente e chorei. Chorei como alguém que ainda tinha esperanças e, de repente,
já não tinha mais nada. Chorei como se nada mais fizesse sentido na minha vida.
Como se algo tivesse desligado os meus ouvidos e soltado um oceano de lágrimas
pelos meus olhos ao mesmo tempo. Chorei como alguém sem fé, incrédulo.
Chorei até no outro dia, quando minhas lágrimas secaram.
Fomos pra casa todos juntos, menos um. Éramos quatro agora, sem você, paizinho.
A casa ficou pior, ficou sem graça, sem esperança. Tantos anos já se passaram e
ainda não consigo conter as lágrimas de saudade, de vontade de te ver, te
abraçar, te contar como é minha rotina de jornalista e saber se você tinha
histórias parecidas de quando trabalhava no Correio Brasiliense, te dar feliz
aniversário e olhar pro seu sorriso. O senhor sempre estava sorrindo.
As pessoas falam e até eu mesma já dei conselhos dizendo que
com o tempo nos confortamos, acostumamos com a ausência e passamos a lembrar
somente das coisas boas que vivemos juntos. Mentira! Palavras de quem não sabe
o que dizer.
Paizinho, você não imagina a falta que faz. Mas eu ainda
sinto sua presença. Ainda sinto que o senhor me vê de algum lugar. É por isso
que converso tanto com você antes de dormir. Sei que está aqui. Só não sei se
está orgulhoso, se aprova minhas escolhas e atitudes. Mas sabe o que eu
realmente queria? Poder te dar um abraço bem forte, elogiar sua camisa verde,
aquela que o senhor gostava de usar em datas especiais e a gente implicava, e
dizer como eu te amo.